segunda-feira, 10 de junho de 2013

Medicina integrativa ganha espaço em hospitais e até no SUS

Chris Bueno Do UOL, em São Paulo
Thinkstock
A medicina integrativa propõe um resgate das práticas mais antigas sem negar os avanços da convencional

Em uma consulta de rotina, você fica sabendo que terá que passar por uma pequena cirurgia. Você faz a operação e o médico afirma que o procedimento foi um sucesso. Mas isso é apenas o primeiro passo: afinal, ainda é preciso lidar com a cicatrização, que muitas vezes vai exigir cuidados especiais com a alimentação e alguns dias longe do trabalho. Acompanhar todo esse processo para o restabelecimento do bem-estar físico, mental e social é o objetivo da medicina integrativa.

Partindo do princípio de que acupuntura, meditação e ioga ajudam a minimizar a dor, a ansiedade e até os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais, a medicina integrativa tem ganhado cada vez mais espaço em hospitais e centros de estudos.

Para os defensores da prática, a cura não é apenas eliminar a doença, mas sim restabelecer o paciente integralmente – e isso inclui os aspectos emocionais e sociais também.

"A medicina integrativa propõe um resgate das práticas mais antigas sem negar os avanços da medicina convencional", diz o médico Paulo de Tarso Lima, coordenador do Grupo de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein e autor do livro "Medicina Integrativa – a Cura pelo Equilíbrio".

Isso não quer dizer que um tratamento seja trocado pelo outro, mas, sim, que a combinação deles pode trazer benefícios reais para o paciente. "A medicina integrativa não é a defesa de uma terapia complementar, mas sim a integração de vários esforços pensando no bem-estar do paciente", explica.

Na definição do Consortium of Academic Heath Centers for Integrative Medicine, "a medicina integrativa é a prática que reafirma a importância da relação entre médico e paciente, com foco na pessoa como um todo, embasada em evidências, e que usa de todas as abordagens terapêuticas apropriadas para alcançar saúde e cura".

Pelo mundo afora

Essa nova abordagem, na verdade, não é tão nova assim. A medicina integrativa surgiu em meados de 1970 dentro das universidades norte-americanas, num movimento que buscava tirar a doença do foco principal de atenção e colocar o paciente como protagonista.

O primeiro centro de medicina integrativa foi criado em 1991 nos Estados Unidos pelo médico Brian Bennan. Atualmente, institutos e universidades europeias, americanas, canadenses, indianas, chinesas e africanas possuem cursos e centros de pesquisas sobre medicina integrativa.

O Brasil não fica atrás. A oferta de tratamentos complementares já acontece no SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2006, quando o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PIC). Desde então, passaram a ser oferecidos acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e termalismo (diferentes maneiras de utilização da água mineral e sua aplicação em tratamentos de saúde) no sistema público de saúde em mais de 1.200 municípios.

"Pacientes em tratamento por hepatite, obesos mórbidos e ostomizados (que passaram por cirurgia para construir um novo caminho para a saída das fezes ou da urina para o exterior) podem ser beneficiados por esse tipo de tratamento. Eles são encaminhados pelos seus próprios médicos, que avaliam se estão em condições de receber o tratamento clínico e as terapias alternativas ao mesmo tempo", diz Edilma Gonçalves, presidente da Associação do Voluntariado do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, que oferece terapias alternativas como reiki e cromoterapia aos seus pacientes. "O nosso objetivo é que essas terapias alternativas sejam estendidas para todas as especialidades atendidas no Mandaqui, inclusive para os funcionários", afirma.

E a implantação teve sucesso: segundo dados do Ministério da Saúde, o SUS faz em média 385 mil procedimentos de acupuntura e mais de 300 mil de homeopatia por ano. "A medicina integrativa já é uma realidade efetiva em todo o país, e conta com lei federal, portaria regulamentadora do Ministério da Saúde - ainda que sob denominação diferenciada - e diversas leis estaduais e municipais", aponta o doutor em ioga Cláudio Duarte, que é membro da Unesco e consultor especializado em qualidade de vida em vários países.

Apesar de ainda haver relutância por parte de muitos médicos convencionais, a prática integrativa tem respaldo científico. O número de estudos sobre o tema cresceu 33% em cinco anos, de acordo com o banco de dados de publicações médicas Pubmed. Só em 2011 foram 514 artigos divulgados. Os cursos sobre o tema também têm aumentado: só nos Estados Unidos são mais de 3.800 cursos na área.

Aqui no Brasil, a Liga de Medicina Integrativa da Unicamp oferece desde 2010 a disciplina de medicina integrativa para alunos de graduação da Faculdade de Ciências Médicas. E o hospital Albert Einstein de São Paulo oferece o curso de pós-graduação latu senso em medicina integrativa, atendendo cerca de 40 alunos por ano e realizando várias pesquisas na área.

Paciente em primeiro lugar

A característica principal da medicina integrativa é colocar o paciente em primeiro lugar. Isso significa pensar nele integramente, considerando seus aspectos emocionais e sociais também, assim como considerar as características únicas de cada um. "Para algumas pessoas, a meditação pode trazer alívio dos sintomas, mas para outras pode não ter efeito. Por isso antes de tudo é preciso ouvir o paciente", afirma Lima.

Os pacientes que podem usufruir muito dos benefícios da medicina integrativa são os crônicos. Isso porque têm de conviver com uma doença por um período de tempo muito longo e veem sua qualidade de vida se deteriorar por conta da enfermidade. Nesses casos, as terapias complementares e alternativas podem oferecer recursos que forneçam bem-estar para esses indivíduos.

"Entre os principais motivos que estimulam o paciente e/ou seus familiares a procurarem a medicina integrativa está o fato de a mesma ser altamente humanizada, ou seja, ela preocupa-se com o ser humano, em ouvi-lo, em atendê-lo profundamente, em dar-lhe além do tratamento necessário, também atenção", explica Duarte.


Saiba mais sobre medicina integrativa:

VÁRIAS OPÇÕES: a medicina alternativa oferece uma grande variedade de tratamento, pois ela soma à medicina convencional os recursos das terapias complementares a alternativas. Um paciente que teve que passar por uma cirurgia na garganta, por exemplo, além da equipe de cirurgia e de otorrinolaringologia, também pode contar com fonoaudiólogo, psicólogo e nutricionista para ajudar na recuperação, além de poder lançar mão de outras terapias como ioga, meditação e acupuntura, para lidar com a dor e com o estresse. "Dentro dos seus diferentes grupos de especialidade clínica, a medicina integrativa pode ser utilizada praticamente para qualquer situação. Porém, a mesma quando necessário também lança mãos de outros recursos, como a Fonoaudiologia, a Psicologia, a Nutrição ou outros e claro, dos exames laboratoriais que forem precisos", explica o doutor em ioga Cláudio Duarte.


PODER DE RECUPERAÇÃO: a medicina integrativa enfatiza a capacidade inata de recuperação do organismo. De acordo com a prática, a cura não vem de fora, mas de dentro. Remédios, tratamentos e cirurgias ajudam a acelerar a recuperação, mas não podem fazer todo o trabalho sozinhos. "Por exemplo, uma cirurgia da vesícula pode ser um sucesso, mas o paciente pode não se sentir bem. Isso porque o tratamento não acaba com a cirurgia: após a operação tem o processo de cicatrização e recuperação, e isso vai impactar na vida dessa pessoa. Isso influencia na sua saúde, que vai ficar debilitada por um tempo; na sua vida pessoal, já que não poderá desempenhar algumas tarefas; e na sua vida social, pois provavelmente não poderá cumprir suas obrigações, terá que faltar do trabalho, e pode até haver problemas financeiros advindo disso em alguns casos. E isso vai afetar a própria percepção de saúde e de qualidade de vida", afirma o médico Paulo de Tarso Lima. Dando o apoio necessário e fortalecendo o lado emocional, o paciente pode ter um processo de recuperação mais rápido e amplo, e menos traumático.

AUTOCUIDADO: como para a medicina integrativa o paciente tem papel ativo na sua própria recuperação, a prevenção e o autocuidado são fatores essenciais para a manutenção a saúde e do bem-estar. O autocuidado é, como o próprio nome diz, cuidar de si mesmo, alimentando-se bem, praticando exercícios físicos, buscando o equilíbrio, evitando o estresse, o sedentarismo, o tabagismo, o alcoolismo e outros hábitos prejudiciais. "O papel do próprio paciente no processo de cura ou de melhora é fundamental. Por isso é muito importante a noção de autocuidado", afirma o médico Paulo de Tarso Lima. "Mas este não é um caminho inato, é um caminho que a pessoa tem que aprender a perseguir, tem que aprender como se cuidar melhor, como se sentir melhor. E os profissionais têm que dar apoio para isso".

SAÚDE NAS GRANDES CIDADES: morar numa megalópole como São Paulo, por exemplo, tem suas vantagens, mas também suas desvantagens, como a correria, o estresse, a poluição (não apenas do ar, mas também sonora e visual). E isso acaba impactando na saúde. Assim, em grandes cidades ou metrópoles, os profissionais das diferentes especialidades da medicina integrativa também se preocupam em orientar as pessoas nos quesitos alimentação, relaxamento, equilíbrio ou reequilíbrio emocional, nervoso ou psicológico. "Outra das fortes vertentes da medicina integrativa é a busca constante de qualidade de vida, da tomada de consciência sobre como evitar os excessos e exageros, como cuidar da saúde de forma adequada, como ter hábitos saudáveis e que produzam uma vida longeva", afirma o doutor em ioga Cláudio Duarte.


EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: para dar conta de todos os aspectos abordados pela medicina integrativa, é preciso unir esforços de várias especialidades. Por isso geralmente os centros de medicina integrativa trabalham com uma grande equipe multidisciplinar, que inclui além da equipe médica tradicional, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, além de especialistas em terapias complementares e alternativas, como ioga, homeopatia, acupuntura e meditação.


TERAPIAS COMPLEMENTARES E ALTERNATIVAS: a medicina integrativa combina a medicina convencional com as práticas da medicina complementar no processo de tratamento do paciente, para alcançar a recuperação física, emocional e social. Um bom exemplo é a utilização da acupuntura no alívio dos efeitos colaterais causados pelo tratamento do câncer, ou então dos conhecimentos de relaxamento para reduzir o estresse durante a recuperação de uma cirurgia, ou da musicoterapia no controle do estresse . "A medicina integrativa não é a defesa de uma terapia complementar, mas sim a integração de vários esforços pensando no bem-estar do paciente", enfatiza o médico Paulo de Tarso Lima.

MEDICINA PARA MENTE E CORPO: para o corpo estar bem, a mente também tem que estar bem. Por isso, muitas vezes a medicina integrativa recorre a terapias como meditação, hipnose e ioga para fornecer relaxamento e autoconhecimento ao paciente, contribuindo para seu processo de cura. "Um dos principais benefícios advindo da utilização da medicina integrativa é o reequilíbrio somatológico emocional, nervoso e psicológico, que se reflete diretamente no sistema imunológico", explica Cláudio Duarte, doutor em ioga.

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME: a alimentação é fator crucial para a manutenção da saúde, tanto prevenindo doenças como contribuindo para se recuperar delas. Por isso a medicina integrativa sempre enfatiza uma alimentação saudável e adequada para cada caso, por exemplo, dietas especiais para hipertensos, diabéticos e até pessoas com câncer, que ajudem a fortalecer o organismo e podem até mesmo amenizar os sintomas. Vitaminas, ervas e suplementos também podem contribuir para isso. "A alimentação saudável aliada à uma forma de vida equilibrada é fundamental sob todos os aspectos, no sentido de se manter a saúde das pessoas, independente da sua idade ou condição social", afirma o doutor em ioga Cláudio Duarte .

ENERGIA: manipulação corporal, como massagem e shiatsu, e técnicas baseadas na energia corporal, como tai chi chuan, reiki e toque terapêutico, também são abordagens utilizadas pela medicina integrativa. Elas podem ajudar a aliviar sintomas e a diminuir o estresse de um tratamento, promovendo uma melhoria significativa na qualidade de vida dos pacientes. "Essas terapias trabalham a energia do nosso corpo, estimulando uma reação aos sintomas das doenças. Somando-as às terapias convencionais, pode-se alcançar melhores resultados na recuperação dos pacientes e no seu bem-estar", afirma o médico Paulo de Tarso Lima. "Essas terapias utilizam a manipulação da energia vital do ser humano. O objetivo do tratamento é eliminar doenças e restabelecer a saúde física e emocional. A terapia é natural e não envolve qualquer tipo de influência religiosa", explica Edilma Gonçalves, presidente da Associação do Voluntariado do Conjunto Hospitalar do Mandaqui.

O VELHO E O NOVO: unir o que há demais moderno com técnicas milenares. Apesar de parecerem contrastantes, a medicina moderna e a milenar podem se complementar em busca do bem-estar do paciente. Assim, ressonância magnética e mapeamento genético podem ter aliados como a a medicina ayurveda indiana (que enfatiza o equilíbrio entre mente, corpo e espírito), a medicina chinesa (que se baseia na harmonia de duas forças denominadas Yin e Yang); a acupuntura e a homeopatia. "Se o paciente precisa de recursos da medicina convencional, isso não será negado. Mas à medicina convencional podem ser somados outros recursos, pensando sempre no bem-estar do paciente e na sua qualidade de vida", diz o doutor em ioga, Cláudio Lima .

Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude


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